terça-feira, setembro 14, 2004

Remix da Fé

Ontém fui assistir ao filme Irmãos de Fé, saí de lá com a lembrança da primeira tentativa da Igreja Católica de recuperar e arrebanahr novos fiéis. Em 2003, a igreja católica, percebendo que o movimento carismático estava cada vez mais se confundindo com as igrejas pentecostais avivadas, resolveu lançar mão de seus recursos e do prestígio de seu maior porta-voz entre o povo para reafirmar-se no cenário religioso nacional. Padre Marcelo Rossi lança-se no mundo cinematográfico juntamente com grande elenco Global para defender Maria a mãe de Deus.

Não sei quantos se deram conta da miscelânea de elementos teológicos, geográficos e culturais que os produtores e roteiristas se meteram, mas uma das coisas que mais me chocou foi ver Cristo sendo cruscificado num belo cenário à beira mar.

Mas ele não foi cruscificado em Jerusalém? Se você também se fez essa pergunta, dê uma olhada em qualquer atlas escolar e localize a Cidade Santa. Quando vi aquela cena tentei me esforçar para aceitar, mas é impossível. Se olharmos do Gólgota para o Oeste, teremos pelo menos 50km de deserto e savana até encontrarmos o Mar Mediterrâneo, e ao Leste uma pequena cordilheira separando Jerusalém do Mar Morto 15km dali, o que torna impossível e catastrófico o infeliz cenário nordestino e praiano do filme de Góes.

Mas a investida da Santa Igreja não pára por aí. O pontificado brasileiro ataca novamente, agora com a história do maior evangelista da história Cristã. Saulo, o perseguidor se converte a Jesus numa experiência pessoal com o Cristo, e passa a pregar a salvação por meio do Filho de Deus, que foi morto na cruz e ressucitou três dias depois. Paulo, agora apóstolo, é apresentado na película como um bonitão sarado – Thiago Lacerda, nada contra, mas que peca na sua interpretação.

A controvertida apresentação dos fatos, colocando Paulo e Tiago frente-a-frente numa discussão calorosa, incluindo discursos dispersos num mesmo diálogo tranformam os "Irmão de Fé" em adversários políticos em ano de eleição. Não me parece que a defesa de Tiago sobre fé e obras foi dirigida diretamente a Paulo naquele episódio de seu segundo encontro com os apóstolos em Jerusalém. Não teria sido para as “doze igrejas dispersas nos quatro cantos da terra” que Tiago dirigiu seu discurso?

Controvérsias e precariedades cinematográficas à parte, a tônica do filme recai sobre o perdão, sobre a possibilidade de uma segunda chance àqueles que desejam ser transformados de uma realidade malígna para uma vida de alegria e possibilidades.

A boa lição que tiro deste filme é: Todos merecemos uma segunda chance.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Nunca vi esses filmes. Mas crucificação à beira-mar é um luxo, ein?

1:40 PM  

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